Um Carta Sobre os Smartphones e as Telas.

    Encarar a fila da lotérica sem acessar o Instagram (por mais simples que isso seja) se tornou uma tarefa difícil. Não há espaço para o ócio e também não há tempo para o tédio, afinal, estamos completamente imersos nas redes sociais e famintos pelo uso do celular. Entre várias notificações, recomendações e o "bip" das mensagens, estamos nos tornando inteiramente escravos das telas e consequentemente ficando profundamente cansados. Se eu pudesse expressar toda essa nova cultura em um só termo eu a chamaria de "hiperconectividade". 
  
    Momentos mais naturais, verdadeiros e reais são interrompidos por movimentos automáticos de rolar a tela. O que está acontecendo? Por mais que tenhamos controle de várias ações no nosso dia-a-dia, não é racional desconsiderar todo o mecanismo pronto para nos manter presos nas redes. É até possível nos pensar como vitimas (risos)... é sério. A presença de cores (a tela colorida é mais sedutora), formatos, informações e a existência de técnicas são pensados para assegurar você (ser humano) nas fronteiras de uma realidade paralela, tudo bem pensado e elaborado para que você possa consumir e desperdiçar seu tempo, seu dinheiro e sua vida. Vá fundo e observe que o tempo de tela representa um ganho financeiro para uma pequena parcela, enquanto todas as outras pessoas tem a sua vida subtraída.
    
     Você percebe como tem se tornado comum ficar com os olhos cansados, dores de cabeça, problemas de postura, distúrbios do sono, estresse, falta de concentração, irritabilidade ou mesmo a presença de transtornos mentais como a ansiedade e a depressão como frutos do uso excessivo do celular? Como se não bastasse tantos efeitos colaterais, alguns ainda experimentam a culpa pelo tempo que passou preso ao telefone. Então o que fazer tem tempos de nomofobia (medo irracional de perder o celular ou ficar sem ele por algum tempo), hein?  
  
      Em primeiro lugar eu destaco a tomada de consciência sobre o tamanho do problema. É importante ter uma noção ampla que nos leva a perceber o propósito das telas, os mecanismos de controle e os impactos que o desequilíbrio no uso das telas provoca em nossas vidas. Mas, como em quase tudo nessa vida, não basta saber, tem que fazer acontecer. Em segundo, estabeleça limites, períodos e momentos nos quais você irá usar o celular e quando você vai se desconectar; é interessante atempar o uso do celular. Desative notificações, encontre atividades ou hobbies longe da internet, não durma próximo do celular, ative as configurações que bloqueiam cores excessivas no celular, como por exemplo a escala em cinzas (nesse modo o celular fica semelhante a um Kindle, sem cores chamativas e assim ele se torna muito menos atrativo). Por último mas não menos importante: estime a busca pela psicoterapia para te auxiliar no processo.  
      
     Diante dos argumentos supracitados, eu concluo que precisamos urgentemente estabelecer uma relação de equilíbrio com os smartphones e as telas de maneira geral. Somos capazes de retomar a nossa vida com o que há de mais natural. Por que não aproveitar os abraços, conversar de maneira saudável, experimentar o toque, o carinho, enxergar as flores, molhar as plantas, ver o sol (no nascer ou no pôr), capturar os olhares, sentir as dores, ler alguns livros, ver um filme, viajar para longe ou quem sabe deitar e dormir? Apelo para que você vá e viva. Viver é saúde. 

     O que tenho feito? Minha receita: só me permito usar as redes em horários comerciais (entre 8h e 12h e 14h e 18h). Observação: em alguns dias me permito ir além, caso esteja em alguma conversa devera importante, como aquelas que eu fico falando sobre livros e discos, ou resolvendo algo burocrático seja como os meus pacientes ou com alguém interessado no meu serviço, mas eu nunca me permito passar das 20h, e tento totalizar o meu uso diário em 1h e 45 min. Meu telefone agora parece um Kindle com as cores cinzas, o que diminuiu meu interesse pelos aplicativos e me levou a preferir ficar de fato no Kindle lendo algo. Sem telefones próximo da cama. Molhando as plantas, andando mais de skate e prefiro ligar ao invés de mandar mensagem. Encontre a sua receita, seu método e seu modo.

   Use e navegue sem esquecer do equilíbrio e da moderação. Se for urgente, me ligue!

   Cordialmente, Douglas Ramos.

Comentários

  1. Sem dúvidas, muito bom!
    suas ideias e pensamentos são incríveis. Sua forma de escrever é bastante convidativa. Você liga fatos a ideias de forma simples e clara. Precisamos falar mais desse tema, pesquisar e fazer publicações. É um alerta. É urgente.

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